Se você ainda não ouviu falar sobre o mercado de crédito de carbono, já adianto: ele chegou para ficar. Uma pesquisa da McKinsey revela que em 2021 o Brasil movimentou US$ 25 milhões no mercado de crédito de carbono voluntário, o equivalente a 17 milhões de toneladas de carbono capturados e convertidos em créditos. O mercado de crédito de carbono foi avaliado em US$ 206 bilhões e o Brasil reúne sozinho 15% de toda oferta da natureza, em segundo lugar está os Estados Unidos com 3% e a China com potencial de 2%, mas que hoje emite apenas 1%. A plataforma Pitchbook estima que até o final de 2022 o mercado geral de tecnologia de carbono e emissões atingirá US$ 905 bilhões.
O assunto foi pauta da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC, em inglês), na ECO-92, no Rio de Janeiro, e ganhou mais força com o Protocolo de Quioto. Os créditos são certificados que garantem que ao menos 1 tonelada de dióxido de carbono (CO2) deixou de ser emitida na atmosfera o que reduz os danos dos gases de efeito estufa, aquecimento do planeta e outros fatores.
Lá atrás quando os primeiros créditos começaram a ser comercializados acreditava-se que apenas oceanos e florestas eram geradores de crédito de carbono, mas alinhada às práticas de ESG, empresas do Agronegócio passaram a adotar soluções mais sustentáveis, como o uso de insumos biológicos, rotação de cultivos e a chegada da agricultura de precisão, sem falar nos bons índices de preservação nativa, de acordo com a Embrapa a produção de grãos, fibra e agroenergia representa 9% do país e dentro dessas fazendas cerca de 20,5% da vegetação nativa é preservada.
E quem está trazendo mais tecnologia e ESG para o Agronegócio são as Agtechs – startups do agronegócios e que somam 366 empresas no Brasil, de acordo com o Distrito e trazem soluções para todas as etapas da lavoura. Para entender um pouco mais do movimento dessas empresas indico o artigo Boom das agetechs e pode ser acessado aqui – link. Somada às práticas recém implantadas no campo e as novas tecnologias passamos a ter uma agricultura mais regenerativa e comprometida com o meio ambiente. Grandes empresas já assumiram o compromisso da agricultura regenerativa como é o caso da Bayer e da Indigo.
São as agtechs que também trazem soluções para o crédito de carbono, como é o caso da Agrorobótica, empresa que utiliza a mesma tecnologia da Nasa para fazer a gestão de fertilidade do solo e das plantas, e com isso, consegue transformar pastos degradados em áreas agrícolas para captura de carbono, e comercializar os créditos equivalentes no mercado voluntário. Para ter ideia do impacto financeiro disso, o Mario Lewandowski, diretor de novos negócios da gestora AGBI, declarou em uma entrevista que uma das fazendas compradas por um fundo deles – a fazenda Comodoro em Mato Grosso – tem potencial para gerar R$ 33 milhões em créditos de carbono em 20 anos.
O relatório da McKinsey é claro ainda em dizer que o Brasil tem um grande potencial para crédito de carbono no agronegócio, pois tem um potencial de emitir de 120 a 160 milhões de toneladas de CO2, mas hoje tem atua com a emissão de 0,3 milhão.
Para atingir as metas do Acordo Paris 2015, a IHK Market Global estima que os preços devam chegar a US$ 50 a US$ 90 por toneladas, o que torna o mercado promissor para quem deseja investir. Outro fator é que temos visto cada vez mais empresas que desejam ir além do chamado net-zero – que é o compromisso de reduzir a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera, elas procuram no mercado de crédito de carbono uma fonte de financiamento para projetos verdes. Sem falar que hoje o desafio não está mais em encontrar compradores para o crédito, mas sim nas empresas em oferecer o serviço de qualidade e com o mínimo de perda possível e é por isso que cada vez mais é preciso investir na tecnologia como aliada, além de práticas integradas de ESG para um agronegócio cada vez mais sustentável.