Aqui na Valore Brasil costumamos dizer que o segmento de Fusões e Aquisições é como o mercado de eucalipto, não o de soja. Ou seja, os processos de M&A são demorados e seus resultados tendem a levar mais tempo para serem percebidos. Enquanto o primeiro corte de uma floresta de eucalipto acontece em cinco ou seis anos, uma lavoura de soja será 100% colhida pouco mais de dois meses após a semeadura.
E por que essa comparação é importante?
Bom, assim como muitas coisas na vida o mercado de Fusões e Aquisições é pendular, cíclico. Afinal, não há situação que resista para sempre. E sendo o M&A um mercado “eucalipto”, a frequência do pêndulo é baixa, exigindo uma etapa de preparação e visão de longo prazo. Hoje, assim como em diversos outras setores da economia, ainda estamos num período de baixa.
Ano passado, enfrentamos uma tempestade perfeita. Foram cancelados IPOs e investimentos foram adiados, impactando diretamente a indústria de fusões e aquisições. O resultado foi a redução próxima a 30% tanto em volume quanto em valor transacionado em 2022.
Essa tempestade começou a se formar com mais intensidade no início do ano passado. Dois ingredientes globais contribuíram para este fenômeno negativo: o rebote inflacionário mundial da pandemia do coronavírus, com seu remédio amargo da elevação das taxas de juros, e as incertezas da guerra na Ucrânia, que se arrasta com capítulos semanais.
Aqui no Brasil, nuvens pesadas já eram esperadas devido à aversão ao risco, tendo em vista as eleições majoritárias. O período que já é normalmente turbulento foi catalisado por duas visões muito antagônicas sobre reformas essenciais como a administrativa e fiscal. Em setembro passado, o BofA Global Research, área de inteligência de mercado do Bank of America, apontou três cenários em seu Brazil Viewpoint.
No cenário mais otimista, o governo federal conseguiria formar maioria no congresso e avançaria com a agenda de reformas tributária e administrativa. O relatório destacava também a importância de controlar a questão fiscal, fator fundamental para a retomada de crescimento econômico. No cenário negativo, sem apoio do Congresso, nada disso aconteceria.
Definida a eleição e após três meses de governo, estamos justamente na fase de formação da base de apoio no Congresso, elemento fundamental em nossa democracia de coalisão. Paralelamente a isso, o arcabouço da reforma tributária vem sendo desenhado há anos, baseado no modelo de Imposto sobre Valor Agregado e com negociações adiantadas com os estados. Estamos também aguardando a nova regra fiscal que será proposta pelo Ministério da Fazenda. O terceiro ponto para que se alcançasse o cenário “bull”, a Reforma Administrativa, é de responsabilidade do Ministério do Planejamento, mas segue apagada entres prioridades do governo.
Enfim, a intensidade da retomada econômica depende de como e quando cada um desses fatores vai se desenrolar. Mas é certo que um novo ciclo positivo virá, o balanço do pêndulo para o lado positivo vai acontecer. Afinal, a vida continua e o Brasil com seu imenso mercado consumidor ainda conta com excelentes oportunidades de negócios, com empresas performando muito bem e empreendedores e times cada vez mais capacitados. Neste ambiente, a tecnologia continua sendo um dos setores mais relevantes. Afinal, hoje em dia tudo é “tech”.
E não é só porque a vida tem que voltar ao normal ou devido às excelentes oportunidades que acredito numa melhora de cenário. A taxa de juros, clássico limitador de oferta de crédito e investimentos, tende a iniciar um cenário de queda. Se olharmos o gráfico comparativo da taxa de juros básica da economia (#Selic) e da inflação (#IPCA) desde o anúncio da pandemia, em 2019, vemos que as linhas nunca estiveram tão distantes. Com isso, o Brasil apresenta hoje os juros reais tidos como os maiores do mundo. Obviamente, isso indica que, no tempo correto, a tendência é de volta da taxa de juros a patamares menores e consequentemente maior liquidez para operações de M&A.
Por isso, meu recado para empresas brasileiras que pretendem continuar líderes de seus segmentos ou ingressar neste clube de empresas hegemônicas por meio de processos de fusões e aquisições: não desanimem com o cenário atual; o processo é longo e quem estiver preparado para enfrentá-lo colherá seus eucaliptos num futuro não muito distante.