O excesso de liquidez dos últimos anos, fruto de juros próximos de zero durante mais de uma década, somado aos estímulos dos Bancos Centrais durante a pandemia do COVID 19 fez com que movimentos de consolidação se tornassem mais frequentes em diversos segmentos. No geral, os compradores são empresas capitalizadas em setores bastante pulverizados que buscam acelerar seu crescimento comprando um concorrente e/ou negócio complementar. Veja abaixo as principais características de empresas que seriam vistas pelo mercado como atrativas:
Recorrências nas receitas
Serviços de assinaturas e contratos de prestação de serviços são exemplos de negócios que possuem previsibilidade em suas receitas, isso é visto com bons olhos por compradores pois minimiza o risco de surpresas com os resultados futuros.
Empresas dominantes em uma região ou nicho de atuação
Líder de mercado em um conjunto de cidades e uma companhia referência na prestação de um determinado serviço. Em ambos os casos há uma atratividade grande para a venda, visto que se o comprador quiser dominar a região ou se tornar a referência no serviço prestado, pode ser mais rápido e menos custoso negociar a compra do que iniciar uma competição.
Um dos setores aquecidos em M&A é Telecom que reúne recorrência nas receitas e empresas dominantes na cidade/região em que atuam, por exemplo, e teve mais de 100 transações na última década (2010 – 2020), movimentando R$ 467,9 bilhões – um número, na verdade, que é ainda maior já que omite negócios não divulgados.
Plano de crescimento contratado
Um grande contrato vencido e pronto para ser executado ou uma expansão dentro de clientes atuais. Somado aos resultados passados, um mínimo de clareza sobre a execução futura, pode atrair empresas do mesmo mercado com o capital para a realização do potencial oferecido.
Setores altamente pulverizados
Um mercado onde o principal player ou os principais players somados detenham um percentual pequeno do total, provavelmente passará por um movimento de consolidação em algum momento. Os ganhos de escala são possíveis de serem capturados em quase todos os segmentos e alguém com um porte muito maior terá grandes vantagens.
Saúde é um setor altamente pulverizado, com cerca de 700 operadores de planos de saúde, 6 mil hospitais e 24 mil laboratórios e clínicas. Somente as companhias listadas em bolsa fizeram mais de 50 transações em 2021, movimentando R$ 15 bilhões. Além disso, é um típico exemplo de crescimento contratado: com o envelhecimento populacional, a demanda e gastos com serviços de saúde tem um crescimento secular contratado.
Geração de caixa relevante
Existem negócios em que um alto percentual da receita auferida se converte em caixa para a companhia, isso possibilita com que ela distribua dividendos aos acionistas ou reinvista em sua própria atividade. Essa segunda opção se desmembra em investimento orgânico, onde o crescimento se dará nos negócios atuais da empresa e em novas frentes que decidir entrar sozinha, ou investimento inorgânico, quando ela aloca o capital em outras sociedades para acelerar seu crescimento ou entrada em novas verticais.
Produtos e serviços de primeira necessidade
A resiliência de um setor também pode ser medida pela elasticidade/inelasticidade do preço do produto/serviço que ele oferta. Quando se trata de itens de primeira necessidade, uma variação no preço tende a afetar menos o consumo do que aconteceria caso o mesmo aumento se desse em um produto ou serviço supérfluo e, portanto, com mais elasticidade.
Não é coincidência que dentre os setores aquecidos em transações de fusões e aquisições nos últimos anos, encontramos muitas dessas características.